Edição: Pataca Discos, 2014
Classificação final: 8.9/10
Bandas e a
coabitar Portugal com o estatuto de “super-grupo” são escassas, mas sempre vão
existindo algumas (poucas, é verdade) que conseguem ter esse estatuto. Quando
os Diabo na Cruz surgiram, por volta
do fim da década passada, contavam com B
Fachada como seu membro e rapidamente conseguiram consolidar-se como uma
das maiores bandas nacionais da sua altura, sendo que ainda hoje o são (mesmo
já sem B Fachada), contando na sua formação com membros como Jorge Cruz ou João
Gil. Passado pouco tempo da formação dos Diabo
na Cruz, surgiam os You Can’t Win,
Charlie Brown, inicialmente formados apenas por três membros. Mais tarde,
David Santos, musicalmente conhecido por Noiserv,
Tomás Sousa e o próprio João Gil dos Diabo
na Cruz juntaram-se ao grupo e ainda hoje esta é a sua formação.
Depois de um
EP editado em 2010, os YCWCB
cresceram bastante e acabaram, naturalmente, por se tornar um dos nomes mais
importantes para a música portuguesa com a edição de Chromatic, em 2011, carimbada pela Pataca Discos. Já na altura, a estética das suas canções era
aprumada e preocupada com os pequenos detalhes de passar o silêncio ao não
silêncio de uma forma bastante simples: bastava a adição de um sintetizador
naquele trecho de canção e esta ganhava mais corpo sem que para isso se tivesse
de moldar a um novo esqueleto. Mudam-se os tempos, mas as vontades parecem
manter-se; parece ser esta a doutrina pela qual os You Can’t Win, Charlie Brown se regem, e ainda bem.
Diffraction/Refraction, o segundo longa-duração da banda
lisboeta, viu a sua luz do dia no passado mês de Janeiro, numa edição novamente
carimbada pela Pataca Discos e mantém
o perfil idiossincrático que Chromatic
nos mostrara, contudo de uma forma mais coesa, concisa e madura. “After
December”, tema escolhido pela banda como amostra de Diffraction/Refraction, fazia prever uns YCWCB com menos chama e
por essa razão o disco não tem um início estrondoso, mas quando nos chega “Fall
For You” aquela chama que tinha acendido em 2011 volta a aquecer-nos e a
aconchegar-nos de uma maneira como hoje em dia poucos sabem como fazer isso
acontecer.
Urge referir
a canção folk de cariz mais
tradicional como um dos géneros que mais marca o disco; “Heart” relembra-nos o
dedilhar habitué da canção folk dos anos setenta, onde se foi
desencantar Nick Drake ou mesmo Jackson C. Frank. Contudo, raramente nos
é possível sentir o peso que a guitarra tem no disco como teve nessa canção: a
guitarra é completamente colocada em segundo plano, juntamente com toda a
restante panóplia sonora. Diffraction/Refraction
é, acima de tudo, um disco que se rege pela actualidade da canção folk, pela sua modernização e pelo
detrimento que este género tem dado, cada vez mais, à guitarra: o que mais
interessa são os sintetizadores e o modo como eles nos conseguem aprisionar ininterruptamente
às canções. É mais do que evidente que os You
Can’t Win, Charlie Brown apostam muito mais nos teclados do que nas
guitarras ou baixos, tal como hoje em dia têm feitos nomes como Grizzly Bear, Surfjan Stevens ou mesmo Animal
Collective, mas com a diferença de que hoje, 2014, ninguém tem mostrado que
o faz melhor do que eles.
As vocais do disco são de excelência, quer a
sua componente principal quer mesmo a harmonia dos seus coros, o modo como Diffraction/Refraction nos prende a si é
soberbo: e, generalizando, a sequência “After December” / “Fall For You” é um
autêntico exemplo de como deve correr um disco; deve ser conexo entre si,
contar uma história ao mesmo tempo que nós queiramos que essa história nos seja
contada. Podemos não ter aqui um momento tão épico como “An Ending”, musicão do
primeiro LP, mas temos um autêntico puzzle de onze peças em que quando nos
apercebemos da sua imagem sorrimos de satisfação por um dever que, mesmo não
sendo nosso, foi cumprido.
Emanuel Graça
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