domingo, 13 de outubro de 2013

10 ANOS COM OS LINDA MARTINI: PRÓXIMA PARAGEM: LISBOA, MEO ARENA, 12/10/2013









São 22h e "...Like Clockwork", dos Queens of The Stone Age, começa a esvair-se nas colunas.
Estão na sala Tejo do MEO Arena umas boas centenas de pessoas para ver o segundo concerto de apresentação de "Turbo Lento", o terceiro disco da carreira dos Linda Martini. Dentro destas, serão várias as que os terão visto mais do que uma vez e até em pontos muito distantes do país. Entretanto, 10 anos passaram, e bandas como os Ölga, Bypass ou Bildmeister, contemporâneas e afiliadas sonicamente em inícios de 2000 e tal, evoluíram para outras bandas, ao passo que os, agora, quatro estabeleceram-se como desde o dia 1. A criação de um público próprio e fiel, com que a banda cresceu na continuidade da sua produção musical, é a razão mais destacada para o rótulo meio "fenómeno de culto" meio histeria catártica generalizada que se vai colando à banda de Queluz e que desencadeia impressões semelhantes para toda uma nova geração que tem nas suas playlists cada vez mais música feita pelos seus irmãos de bandeira. 








Com este novo registo, é tempo de jogar no lixo todas as loas aos Sonic Youth que, por comparações demasiado imediatas, pareciam estar na génese da ascensão do fenómeno de quem lhe respondeu em "Casa Ocupada" com "Juventude Sónica". Na verdade, a t-shirt dos God is An Astronaut colada ao corpo num distante Super Bock Super Rock em 2007, os ensinamentos da cena hardcore de que vieram e as memórias dos At The Drive-In e And You Will Know Us By The Trail of Dead continuam a ser o DNA prévio ou mutado de quem os descobre em alguma parte da sua vida. 
Ter os Linda Martini no activo é uma convivência de pés em falso e vício permanente com tanto swerve: um videoclip de "Ratos", canção que parece que nada tem a ver com politiquices, que afinal estaria guardado para "Aparato", quasi-eterno single adiado; a extensão lexical (olá, "Pirâmica") e lírica que, no fim de contas, se molda a instrumentais dementes como se fosse realmente o contrário que acontecesse; uma base massificada de seguidores que desesperam por um novo "Olhos de Mongol" e que, instilada pela fúria do seu sucessor do mesmo, ainda não reconhece o regresso do novo trabalho a esse território. 







Durante quase duas horas, as luzes abriram-se para uma apresentação ao vivo norteada definitivamente pelo novo trabalho, tocado de fio a pavio no seu alinhamento. Mas também dominada por um equilíbrio ténue, desafio amigável de sucessivos assaltos de um público à beira do descontrolo com o acorde seguinte, a pedir incessantemente aquela e a outra canção, e de um grupo onde Cláudia e Hélio eram os porta-vozes da realidade, criada à imagem e semelhança dos Linda Martini primeiro, convidando os seguidores depois. É por isso que esta não era "uma festa académica", como Cláudia a certa altura lembrou.

"Panteão", a rebentar indirectamente as costuras das feridas de "Casa Ocupada" logo a abrir, ia especialmente para o grupo de jovens que guardava lugar desde o início da tarde à porta do recinto, aqueles que como Sebastião, o mais recente membro da família Martini, não devem querer "ser como toda a gente", não devem querer "crescer de repente".  Às guitarras etéreas e progressões sinistras de períodos de "Pirâmica", "Sapatos Bravos" e "Ratos", ao refrão inesquecível de "Aparato" e às impressões digitais pinchadas em "Juárez", juntavam-se coros e vozes "no ponto", como "até agora", desde que se começaram a ouvir os novos temas, não se tinham reconhecido ao vivo.
Quase que se fazia matinée ou serão: os encores definitivamente não são questão para o grupo, com "Juventude Sónica", "Nós Os Outros", "Belarmino", "Estuque" e principalmente "Este Mar" e "Cem Metros Sereia" sempre alerta. A pouco custo, "Dá-me A Tua Melhor Faca" era verdadeiramente o aftermath da noite, entoado de maneira afinada quando, em surdina, as palmas eram desaconselhadas após "O Amor É Não Haver Polícia" ter sido sentido como nunca (e façam como nós: sentem-se a ver o videograma aqui ao lado, do passado para o presente, e relembrem momentos de um Santiago Alquimista, de Paredes de Coura ao final da tarde, ..., etc.).






A Universal é uma editora extremamente sortuda por ter sacado a oportunidade de ladear com o sucesso dos Linda Martini aos 10 anos de carreira. É à Universal que aquele "Foi bonita a festa pá, fiquei contente" também pertence, como retorno de uma aposta segura e como felicitação a transmitir após as primeiras duas noites de "Turbo Lento" ao vivo.



André Gomes de Abreu
Fotografias por André Branco
(galeria completa disponível 

em facebook.com/bandcom)




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