quarta-feira, 26 de agosto de 2015

SERUSHIÔ - Entrevista

Vida de banda portuguesa em festivais de Verão é a vida de banda portuguesa ao longo de todo o ano: todos procuram uma reacção, por pequena que seja, e poucos palcos asseguram essa fortuna. A julgar por quem os viu no Croka's Rock e depois, à chuva, no Festival Paredes de Coura, os Serushiô desafiaram os limites da sua música, ressuscitaram memórias marcantes e fizeram o seu próprio "palco principal" antes das visitas ao Festival Philantra e à Festa do Avante 2015.
É com as músicas do sucessor dos EPs "Sights & Scenes" e "Life On Extended Play" que todos os vão querer encontrar: nós já o fizemos, no entretanto, para que Sérgio Silva, Serushiô se a envolvente for nipónica, nos falasse um pouco sobre o momento actual do grupo






BandCom (BC): Serushiô é um nome japonês mas a música que fazem tem fortes raízes ocidentais. O nome escolhido para este projecto é, segundo esta aparente contradição, acessório ou a relação entre forma e conteúdo é mais profunda do que parece?

Sérgio Silva (Serushiô): Na realidade é mais um fruto de coincidências! Comecei por utilizar o nome a solo pois achava engraçado o modo como alguns amigos japoneses pronunciavam o meu nome. No entanto, olhando agora em retrospectiva é interessante ver o triângulo criado no mapa-mundo: Portugal, Delta do Mississippi e Japão. Numa era de simbiose artística e unificação mundial é bom sentir que abraçamos o Mundo.


BC: Descobre-se mais da 'folk', do 'blues', do 'rock' ouvindo e conhecendo as histórias e músicas de outros ou construindo as próprias canções?

Serushiô: Construindo canções próprias! : ) Penso que, como em tudo na vida, a experiência em primeira mão é sempre o cerne da existência.



BC: Que pontos principais têm notado na evolução dos Serushiô de disco para disco?

Serushiô: A interacção entre os músicos, quer a nível composicional quer de execução. Eu e o Zé começamos a sentir que a musica é mesmo nossa, de um modo compartilhado. Acho isso fantástico, o facto de duas pessoas sentirem como própria uma criação em conjunto.


BC: Qual é o síndrome com que é mais complicado de lidar: o da primeira 'demo' ou o do disco que se vai seguindo a cada um dos anteriores?

Serushiô: Acho que as bandas que esperarem demasiado ou pensarem demasiado acerca da primeira demo só vão criar um problema. Do mesmo modo, uma banda que lança um trabalho e é bem sucedida, se deixar o ego inflar também pode ter problemas. Nos Serushiô não existe qualquer um destes problemas. Compomos por vocação e necessidade existencial, como tal, não existe espaço para preocupações com a aceitação. Apenas uma enorme satisfação quando isso acontece.


BC: Há alguma comparação que seja um elogio? Como lidam com essa tentação de se avaliar e descrever recorrendo a quem já está lançado?

Serushiô: Penso que a maioria das comparações são elogios. É o modo natural das pessoas catalogarem aquilo que ouvem de modo a poderem organizar os seus pensamentos e emoções. Sinceramente, ainda não ouvi qualquer banda ou músico que possa dizer “soa como Serushiô”. Provavelmente isso acontece do mesmo modo que, na maioria dos casos, um pai reconhece os seus filhos como únicos.





BC: Quer o “I'm Not Lost ... Just Don't Want To Be Found” quer o “Life On Extended Play” tiveram direito a masterização no exterior: um nos Estados Unidos da América, outro na Alemanha. Era indispensável, para vós, que tal sucedesse? É uma formação, também para vós, em relação à vossa sonoridade e os instrumentos que devem utilizar para a procurar?

Serushiô: Não é uma necessidade, mas algo que gostamos que aconteça. Isto pela simples razão de que nesse processo de finalização é bom ter alguém com os ouvidos “limpos”, ou seja, que ainda não conheça o trabalho e consiga assim tomar uma decisão estética imediata.


BC: Os Serushiô apostam bastante também na imagem e sobretudo nos 'videoclips'. É uma maneira de dar um enquadramento às histórias que contam e que poderiam ajustar-se a diferentes cenários ou preferem que sejam um veículo para adensar ainda mais o poder de sugestão e da imaginação?

Serushiô: Achamos simplesmente que é agradável ter uma história visual a acompanhar as canções. Nos dias correntes existe uma grande predominância visual latente na existência e vivência: assim, os vídeos ajudam o ouvinte a conseguir manter um elevado nível de atenção quando ouvem uma canção.





BC: O que é que sentiram, para além do reconhecimento e da simpatia, e puderam reflectir após a passagem pela Canadian Music Week? Sentiram vontade de voltar/ir para o estrangeiro ou ainda têm maior vontade de vingar em Portugal e partir daqui para o exterior?

Serushiô: Ambos. Queremos continuar a tocar no estrangeiro e se possível apresentar a nossa música em todo o Mundo. Ao mesmo tempo, o publico português é especial porque é a nossa raiz e casa. É muito agradável quando somos reconhecidos em casa.



BC: Uma banda que toque um pouco por todo o país guarda sempre no fim várias histórias para contar, algumas menos boas do que outras. Aquilo que nos separa das realidades de outros países no que diz respeito ao investimento colectivo nos músicos é recuperável sem que a questão financeira seja essencial?

Serushiô: Vale sempre a pena tocar para quem nos quer ouvir. Obviamente, por vezes as questões sociais e de subsistência não nos permitem tocar em todos os locais que gostaríamos. 


BC: Para além da Canadian Music Week, que outros palcos ficaram na memória dos Serushiô até à data e que palcos vos criam expectativas para o futuro?

Serushiô: Felizmente, temos tido várias experiências das quais guardamos muito boas memórias. É difícil individualizar…penso que todos os palcos vão melhorando com o crescimento da nossa música. Se as pessoas conhecerem melhor as nossas músicas vão divertir-se mais e assim nós vamos sentir essa energia.



André Gomes de Abreu




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