quarta-feira, 24 de junho de 2015

DE E POR - TIO REX - "Ensaio Sobre A Harmonia" (2015, Biruta Records)

Intrigados por Miguel Reis aka Tio Rex não ter já passado por cá com maior insistência?
Não seja por isso. Saiu há cerca de um mês "Ensaio Sobre A Harmonia", o novo trabalho do intérprete e compositor setubalense que continua a procurar as suas nuances preferidas entre um trajecto tão clássico mas também tão actual.

Nada de pretensiosismos - sabemos que gente que gosta de se exprimir atacando precisamente o que é mais difícil de materializar também não pretende ser "simplezinha" - mas o título não é nenhum tratado ou declaração de intenções grandiosas. Segundo o próprio, esta é tão somente a continuação da sua carreira e, mais precisamente, do seu anterior EP "5 Monstros".
Cada um destes 8 novos temas reflecte, diz, "um estado de espírito diferente", "texturas", "estéticas" e "ambientes diferentes". Uma espécie de banda-sonora para quando pensar sobre "palavras, pessoas, gestos, acontecimentos" ao nosso redor não é demasiado e o Mundo disso também se pode fazer, confrontando um excesso de "robotização" com "o que faz de nós humanos". Transpondo para a realidade pessoal do Tio Rex, o Narrador Polícia, é uma busca pela sua própria "harmonia" antes que os dias terminem. Ei-la.





BOM DIA! e outros pensamentos

Como quase todos os meus discos até agora, este também começa com um instrumental. É o início da viagem e, para tal, recorri a uma composição de guitarra, que criei originalmente para a banda-sonora de uma peça de teatro de um amigo, na qual participei em 2014 – e que dá o título ao tema –, sobreposta a uma 'cassette' com uma gravação dos meus pais a falarem comigo, quando tinha 2 anos, e que eles guardaram até hoje (e agradeço-lhes por isso: Obrigado Mãe e Pai!!!). Este tema representa o despertar físico. 


O Despertar da Alma    
    
Sendo o “ganhar de consciência”, este tema faz a transição do plano físico para o plano do pensamento e do sentimento. Assim, sempre o imaginei como um tema que pedia um   ambiente delicado e épico ao mesmo tempo – materializado pelas várias camadas de cordas compostas pela dupla de meninos-prodígio que são a Gallantry (João Máximo e Bruno Mota) que com enorme mestria produziram o disco –, e um mote simples e directo: “A Salvação do Coração Não Se Aprende”.    

    
Emancipação  
    
O grito de soltura do disco, “Emancipação”, representa o choque do “eu” com o Mundo. É o desprender das amarras da sociedade, que nos tende a empurrar para certos caminhos, muitas vezes sem nos dar a hipótese de nos perguntarmos a nós mesmos quem somos e para onde queremos ir. Nesse sentido, sempre achei que faria sentido ser um tema que fosse beber aos meus tempos de adolescência, muito marcados por concertos e consumos musicais de cariz mais pesado e na onda do 'post-­‐hardcore'. E, como    tal,   fez todo o sentido convidar o Davide Lobão, companheiro com quem partilhei mais palcos e que tem um disco novo excelente, em nome próprio, aí a rebentar, a dar-­lhe forte na guitarra eléctrica. Volta Bisonte! ‘Tás    perdoado!!!       
    
(Ressalva: O Bisonte era a banda em que o Davide era vocalista e que nunca deveria  ter acabado. Não tenho por natureza atribuir títulos de gado a ninguém...)    

    
A Travessia    
    
Metáfora para a caminhada solitária que é a vida. Onde, por muito que estejamos rodeados de pessoas no plano físico, no âmago amamos, sofremos e sorrimos sempre dentro do nosso peito. Para tal recorri à imagem de alguém que navega num barco enorme mas sozinho. As incríveis manas Falcão aka Golden Slumbers, com as suas   doces vozes e harmonias singulares, representam as sereias que atormentavam os marinheiros nos antigos contos épicos dos mares. Como uma presença constante a relembrar o sujeito de que, depois de viver tudo, o fim é garantido.     

    
Reflexão  
    
Uma  pausa para “respirar”. Não merece ser explicada mas sim ouvida e sentida.    

   

O Que O Tempo Destrói    
    
Um brinde aos que perdi. Vou a caminho (e levo um banjo)!    
    

A Cura    
    
“A Cura” representa a compensação de pensamentos e eventos menos positivos, através do tomar de riscos, em busca de algo melhor. Ilustra a passagem da zona de conforto para o desconhecido na esperança de um amanhã mais bonito e luminoso. Aqui, os “meus irmãos” e conterrâneos Um Corpo Estranho fizeram um trabalho exemplar, que já lhes é característico, na materialização sonora da entrada no desconhecido. Além de grandes amigos, são pessoas que admiro imenso e, por serem donos e senhores da estética que lhes é própria, nunca tive dúvidas que seriam as pessoas certas para dar cor a este tema. Mesmo que essa cor seja o preto.  
    
    
You’re My Machine And So Much More  
    
Já  dizia Virgílio: 'omnia vincit amor'. O amor e o clarinete do meu amigo Zé Miguel Zambujo.    





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