quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

CRUA - "CRUA" (2014, Ed. Autor)




CRUA é o nome escolhido para designar o coletivo lisboeta composto por Carlos Carvão (guitarra), Daniel Neves aka MMMOOONNNOOO (noise, electrónica e efeitos) e André Hencleeday (percussão, drones, noise e vocalizações). Para melhor explicar a essência do projeto remetamos a descrição feita pela própria banda, que diz que CRUA é "mais uma colaboração perpétua do que uma banda, na medida em há um propósito intrínseco de experimentar com a energia de qualquer maneira que se revelar necessário, usando quaisquer meios disponíveis. Uma miragem como se estivesse numa hipnose alucinatória dentro de um superhumidoven”. Desde o título, passando pelo conceito gráfico e finalmente pelo som praticado pelo trio, todos os elementos funcionam de forma complementar para o conceito intrínseco ao registo homónimo da banda e que assentam que nem uma luva no resultado final apresentado.



"CRUA", anteriormente nomeado como "CRUA I" antes da renomeação dos dois EPs "I" e "II" para "CRUA" e "BRUMA" (editado pela AVNL Records tal como o novo EP "Zorn Gottes" de MMMOOONNNOOO) respectivamente, é um álbum experimental, com alicerces no rock mas dando espaço a que outras influências andem de mãos dadas como a música ambiental, o noise, o shoegaze ou o stoner, todas elas contribuindo para um disco que se revela como uma verdadeira obra monolítica e de cariz minimalista. É impressionante a forma como o trio consegue, ao mesmo tempo, criar uma dinâmica envolvente ao longo do álbum, com espaço para cada detalhe sobressair e apercebermo-nos da importância de cada momento na música que estamos a ouvir.
 

Em “Kerak”, numa toada demorada e arrastada ao jeito de um funeral doom, os efeitos da guitarra fazem lembrar o exorcizar de almas penadas enquanto que a distorção e a batida certa da bateria acentuam o ambiente sorumbático e negro do tema até “Iboga” começar onde “Kerak” nos deixa. O compasso lento parece, por vezes, dar lugar a ritmos mais acelerados que acabam por não o ser, enquanto a guitarra une-se aos efeitos como elementos criadores do ambiente global.
De seguida, o contraste mais progressivo de “Corrente” assoma e conseguimos denotar as várias camadas sonoras do tema, cada uma delas repleta de particularidades que, no seu todo, contribuem para fazer desta uma música intensa, dinâmica e forte, como atesta o seu final épico a contrastar com a lentidão até então. O disco termina com Cerca de uma hora depois, “Boche” finaliza o trabalho com o avanço de uma melodia inicial mais vincada que nas faixas anteriores, com os elementos electrónicos a terem a sua quota parte neste particular, e o desenvolver de uma fase mais intensa com a guitarra e a bateria a caminharem inseparáveis num ritmo galopante - uma palavra especial aqui para o desempenho na bateria que se distingue dos demais temas pelo vigor da sua execução e dinamismo imprimido à música. Sem dúvida, um tema extremamente interessante e intenso que funciona como um resumo de tudo o que se pôde constatar nos minutos anteriores.





"CRUA" é um disco surpreendente e arrojado, bem executado, onde todos os pormenores contam. Decerto não será para todos mas terá, seguramente, muitos fãs, principalmente junto daqueles que (ainda) conseguem ter a mente aberta a sonoridades mais experimentais.


Hugo Gonçalves




0 comentários:

Enviar um comentário

Twitter Facebook More

 
Powered by Blogger | Printable Coupons