sexta-feira, 14 de novembro de 2014

LOS SAGUAROS - "Yuma" (2014, Hey, Pachuco! Records/Experimentáculo Records)




Quem nunca se cruzou com o imaginário daqueles filmes western que sempre nos acompanharam? Míticas também são aquelas bandas sonoras características desses filmes e é nessa área de influência que podemos esperar o álbum de estreia de Los Saguaros, onde vemos um pouco de tudo entre o desert rock até aquele rock n’ roll que delicia os ouvidos.
Diogo Augusto e Samuel Silva não são novos nestas ‘bandas’, também eles integraram os extintos Sonic Reverence e The Wage, integram agora os The Jack Shits e pelos palcos têm muito passado e, pelo que parece, deixando a sua marca tal como os 9 ilustradores que convidaram.





Em “Yuma” temos energia para dar e vender. Temos uma bateria com o ritmo rock n’roll, temos uma guitarra a oferecer uma passagem de 12, e outras vezes de 6, cordas de concordância face à atmosfera presente de tal forma que mérito é algo que não lhes podemos tirar - em Portugal não é habitual ver deste tipos de sonoridade e eles captaram-na muito bem. 
Dez é o número das canções que compõem este primeiro disco de Los Saguaros, esta história que começa com uma “Intro” propriamente dita a construir o ambiente e a localizarmo-nos espacio-temporalmente para o regresso do “Django”, aquele velho nosso conhecido dos western de que toda a gente ouviu falar, e a sonoridade não fica nada atrás do que nos lembramos das passagens tanto do Corbucci como do Tarantino. Seguimos depois com o som da harmónica e a guitarra a explicar-nos a melancolia viva, uma percussão a nos fazer lembrar uma cascavel pelo deserto a mostrar-nos o porquê de o western-rock estar tão bem presente em “Rattlesnake”.
Faltava algo neste disco que foi muito bem incorporado no single “I Killed My Girl”. Sim, falamos da voz, que canta repetidamente esta máxima com uma guitarra a divagar mas sempre no compasso certo que define todo o enredo. 






A banda também não quis deixar passar um pouco do nosso país e deu nome a um tema da tão bem conhecida “Nazaré” pelas grandes ondas e tão boa para o surf, para ecoar o surf-rock, o complementar ideal do devaneio árido. De seguida, “Fuck It, I’m Leaving” alude a um regresso do deserto a uma casa bem lá no fundo com alguém a tocar um velho blues do Mississípi, com vontade de se libertar de algo.
E um pouco de origens latinas? "Yuma" não nos deixa de surpreender em origens e em “Flamenco Girl” pensamos logo numa bailarina de ar e olhar sedutores e o encontro é de caras com a música que nos faz mergulhar numa cultura tão próxima de nós e que alicia só com os ritmos mais básicos de flamengo mas com a guitarra elétrica. “River Kwai”, título resgatado a um filme de 1957, não se estranha com a história que se detém pelos altos e baixos prisioneiros de uma boa coesão entre guitarra e bateria. Bem, se já temos saudades do romance e da voz, eles aparecem de novo em “Baby, Take Me Back”, onde temos de regressar a uma "ela" e vemos um bocado do desejo de ficar, sem palavras, pelas onomatopeias para suspirar e tê-la de volta.

Assim regressamos à última paragem que dá o nome ao álbum: “Yuma”. Que bela maneira de deixar realmente uma marca com o nome de uma cidade do Arizona que é maioritariamente desértica. Um final cheio de riffs com sabor a tabaco seco e lembranças de batalhas tribais muito bem conseguidas, por sinal, no voltar ao básico do desert-rock com um pouco de surf-rock para apimentar a situação.  

Ouvindo o trabalho, ficamos com uma boa impressão de algo conseguido em Portugal que dificilmente iria ser feito e que, no final de contas, nos deixa bem harmonizados e nos faz automaticamente recorrer a recordações daqueles filmes de Sábado à noite na RTP2. Pois isso, isso são muitas e boas memórias, mas ainda bem que os Los Saguaros estão cá, agora.

Marco Duarte




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