sexta-feira, 21 de novembro de 2014

DEAD COMBO - "A Bunch of Meninos" (2014, Universal Music Portugal)




Tó Trips e Pedro Gonçalves voltam após três anos de ausência, pelo menos em registo gravado, já que 2013 ficou marcado pela digressão que assinalou os dez anos da banda. “A Bunch Of Meninos” é o título do novo álbum dos Dead Combo, lançado em parceria com a Universal Music Portugal e conta com convidados como Alexandre Frazão (bateria e percussão) e António Serginho (percussão).
Para aqueles menos familiarizados será necessário relembrar a base deste duo, onde desde os primeiros trabalhos editados se destacam as influências de sonoridades western que se combinam com ritmos e referências ao fado, numa espécie de ode à natureza humana. 





O registo de “Waiting For Nick At Rick’s Café” serve perfeitamente para tal - abrindo o disco num tom que, não sendo do Velho Oeste nem da Madragoa, consegue servir um qualquer Rick’s Café em qualquer um dos lugares. Destaca-se o sempre ambiente envolvente, onde os riffs ou solos não são iguais a outros já ouvidos, mas ao mesmo tempo parecem ser os de sempre, aqueles aos quais nos fomos habituando e que tão confortavelmente nos vão preenchendo a alma.
E se o som do Faroeste se continua a sentir intensamente nas cordas de Tó e Pedro, não deixa igualmente de ser verdade que ao longo dos últimos trabalhos o mar que os separava da música feita na ponta da Europa se tem vindo a estreitar cada vez mais, como que na construção de um registo que, sendo do mundo, é ao mesmo tempo facilmente identificável com a banda e se desapega dessa espécie de rótulos anteriormente mencionados. 

Há pontos típicos que têm tomado forma desde o início e se tornam, por essa razão, icónicos. "Miúdas e Motas", por exemplo, transmite todo o atrevimento que os Dead Combo imprimem em algumas das suas músicas, onde as guitarras se vão misturando numa espécie de dança que alterna entre a provocação e a suave cortesia. "Waits", logo de seguida, prolonga esta dinâmica, permitindo com a entrada da percussão e da melódica a liberdade à guitarra em experimentar outros territórios.





A identidade que cada música toma com o nome que lhe é atribuída tem-se tornado um dos aspetos importantes de cada álbum do duo. Em “A Bunch Of Meninos”, além das já habituais quebras de barreiras entre diferentes línguas, há aquele inenarrável explorar de uma marca da Lisboa, parte de um país também ele às camadas, que não se dobra, onde podem ser destacados os curiosos “B.Leza”, que pelo menos obriga qualquer português a dobrar a língua perante o toque “abrasileirado” que a letra e o ponto dão à palavra se ainda não põs os pés naquele espaço, ou a "Dona Emília" que será com certeza o furacão do seu bairro e também do pó que a ZdB acumule. Além disso, parece não existir obrigatoriamente um sentido no alinhamento das diferentes faixas que compõem esta espécie de soundtrack - podia perfeitamente ter início com "Povo Que Cais Descalço", por exemplo, que tal serviria, apesar do registo mais aproximado ao tradicionalismo português, para fazer a vez a "Waiting For Nick At Rick's Café".






A não habitual percussão, pelo menos fora do que o corpo humano suporta sem instrumentos, já anteriormente referida comporta um peso importante no álbum, sendo provavelmente a grande novidade que é capaz de destacar algumas músicas. "Arraia" é talvez o melhor exemplo de tal, com uma energia que faz recordar, por exemplo, aquele concerto de Paredes de Coura em 2012. A própria faixa homónima do disco, apesar de comportar uma guitarra muito mais destacada, surge com uma dinâmica completamente diferente onde parece ser mais fácil a Tó Trips desenvolver solos não tão trabalhados ou complexos, mas com um leque experimental muito mais alargado. Não menos atenção merece "Mr. Snowden's Dream": se a bateria que entra quase a meio da faixa faz jus à misteriosa carga sonora criada até então, é igualmente verdade que a presença do som do metalofone e a sua melodia hipnotizante remete a um universo quase fantasmagórico que a banda sempre soube caracterizar.

“Hawai em Chelas” fecha o disco com sonoridades que remontam novamente à eterna Lisboa das sete colinas, numa balada onde se pode sentir uma espécie de Carlos Paredes vagabundo nos dedos de Tó Trips. A melodia é sempre envolta em lume alto, tal como o paraíso no Pacífico ou a ilha de Chelas há alguns anos atrás; num segundo estamos a surfar Waimea, no seguinte a percorrer a selvajaria urbana.
Afinal são estes os Dead Combo, do Mundo, influenciados por ele e criando a banda sonora para quem nele vive, independentemente de "onde".



João Gil




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