quinta-feira, 2 de outubro de 2014

MIKE BEK - Entrevista

É sempre perigoso, e mentiroso, afirmarmos que nada temos a aprender com o exterior. Mas se há coisa que devemos evitar é que o exterior nos ensine algo que nos possa passar debaixo do nariz: ou fomos suficientemente maltratados antes para não prestarmos atenção, ou somos simplesmente seguidores e não estamos onde devíamos estar.
O jovem João Máximo aka Mike Bek é um destes casos, em nome próprio ou nos não menos talentosos affairs laterais como os Naked Affair. Depois de um primeiro EP, "Sleepless Nights", "Legacy" é o novo trabalho que conta com a colaboração de outros dois talentos, o de Tio Rex e o de emmy Curl, e aproxima de forma muito eficaz tudo o que a electrónica, a folk e o blues terão em comum.
À nova etapa em nome pessoal junta-se já neste mês inteiro a jornada de celebração de 3 anos da editora de sangue, a Extended Records.
A propósito, lembram-se de agir e não reagir, de atentar e não perguntar? Serve para todos, para quem selecciona e edita e para quem assina pela criatividade. 






BandCom (BC): Foi pela vertente mais electrónica que começaste a criar música? Quando é que percebes que consegues criar algo que te realiza e que passa a ser importante para ti?

Mike Bek (MB): Antes de começar a compor já era DJ de música electrónica, por isso quando surgiu a vontade de começar a compor as minhas próprias músicas a electrónica foi o caminho óbvio. Eu diria que compor é sempre um entusiasmo pois há sempre elementos e técnicas novas a explorar. É a vontade deixar a tua marca, de fazeres as coisas à tua maneira e de participares no mundo da música.


BC: Na actualidade e na tua opinião, é mais interessante/estimulante/relevante, como ouvinte, dar um novo groove electrónico a um blues ou a um rock mais estilizado ou continuar a debater ou explorar as fronteiras de um género musical específico?

MB: Eu diria que nos dias de hoje em que há uma fácil globalização da música, explorar novas fronteiras de géneros específicos pode ser difícil e por vezes pouco interessante. Acho que é mais interessante pegar em géneros de música intemporais e modernizá-los, dar-lhes timbres novos, aplicar técnicas de outros géneros e obter um resultado diferente. 


BC: Do “Sleepless Nights” ao “Legacy”, as diferenças são substanciais. Muito mais à procura do orgânico e um foco menor no bass n’ beats. É pelo caminho de fusão, de encontros entre géneros menos próximos, que pretendes seguir e criar a tua própria identidade?

MB: Diria que sim. É bom ver que as pessoas notam as diferenças. E sem dúvida que o caminho que pretendo seguir é esse mesmo. Mas nunca se sabe.


BC: No “Legacy” contas com as colaborações do Tio Rex e da emmy Curl que também já têm experiência em integrar-se na música de outros autores que pode ser radicalmente diferente do que fazem. Mas também te vemos regularmente com a influência e ajuda de outros amigos, também eles músicos. Em que pensaste e com que critérios/intenções seleccionaste quem convidaste especialmente para este novo trabalho?

MB: Primeiro comecei por trabalhar com o produtor Bruno Mota com quem já tinha trabalhado para o "Sleepless Nights EP" e juntos idealizámos o "Legacy".
Para a "Carve Your Mark" pensámos no Tio Rex porque para além de o ter conhecido na altura do lançamento do "Sleepless Nights" achámos que seu registo de voz seria ideal para dar uma voz com influência blues e folk. Foi óptimo trabalhar com ele, para além de uma grande empatia, senti que ele deu voz exactamente à mensagem que queria transmitir.
Com a emmy Curl não foi diferente. Eu já conhecia o trabalho dela e sempre pensei numa colaboração. Tal foi possível com a "Night Trains" e o resultado foi ainda melhor do que esperava.






BC: Novo Talento FNAC 2014 e já com convites para alguns conceitos diferentes como o Jameson Beatzmarket ou capítulo II do Red Bull Silent Garden há um ano atrás. Tudo isto é a prova de que a música do Mike Bek está a penetrar nos públicos-alvo pretendidos, a chegar a quem tem que chegar?

MB: Sim, estou agora a começar a chegar ao meu público-alvo mas acho que ainda falta bastante.


BC: Como produtor e já com experiência a remisturar outros temas e outros artistas, que prazer retiras desta parte do teu trabalho? Em que temas gostas de pegar? Ajuda-te também a desenvolver a tua criação?

MB: Normalmente gosto de pegar em músicas das quais já gosto mas imagino uma abordagem diferente ou pequenos caminhos diferentes. De vez em quando gosto de remisturar músicas porque obriga-me a trabalhar mais com áudios, com edição e a dar outro propósito à música original. 


BC: Foste um dos que chegou à fase final de um concurso de DJs promovido pelo Musicbox. Quando boa parte da música que se ouve tem a assinatura de novos produtores, que características têm que ter os melhores para que a sua música sobressaia e seja mais fácil distinguir o trigo do joio, o que tem alma do que tem apenas técnica de botões e cabos? 

MB: Eu diria que não é algo muito fácil de explicar porque tudo tem a ver com o propósito da música e da sua vibe. Já ouvi músicas muito baseadas em loops e serem bastante interessantes como já ouvi temas pop idealizados até ao pormenor que acabaram por não ter interesse. Mas diria que a maior taxa de sucesso está nos produtores que sabem o que querem alcançar.


BC: Notas alguma maior ou menor receptividade quando estás atrás da mesa de mistura exclusivamente como DJ do que quando estás à frente do palco em formato live?

MB: Ao contrário do que estava à espera sinto uma muito maior receptividade quando toco em formato live. Estava à espera do contrário porque ao vivo toco o que produzo, independentemente do público, ou seja é algo que faço para meu próprio usufruto.


BC: Ao contrário de alguns produtores, optaste por editar e associar-te a uma editora, a Extended Records, que se estreou também contigo nos lançamentos com o “Sleepless Nights”. Qual é a sensação de lançar o disco #1 de uma editora? A teu ver, qual o papel actual e futuro da Extended Records na cena nacional e internacional?

MB: A Extended convidou-me a pertencer ao seu leque de artistas antes sequer de ser uma editora. Eu mostrei o meu EP, ainda em construção e desde logo houve interesse em lançar. Eu diria que desde o primeiro lançamento há uma vontade por parte da Extended em lançar música não só a nível nacional mas também internacional, prova disso é a maior parte dos lançamentos estarem em praticamente em todas as lojas online.





BC: Quais os próximos passos do legado do Mike Bek? Aonde acreditas que podes chegar?

MB: Por muito cliché que pareça ainda há muito para fazer e muito para alcançar.
É esperar para ver.



André Gomes de Abreu




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