domingo, 10 de agosto de 2014

FESTIVAL BONS SONS 2014: DA ORGANIZAÇÃO À REALIZAÇÃO

No ano passado a estreia do FUSING Culture Experience, este ano a edição de balanço do festival BONS SONS. Desde 2006 que a aldeia de Cem Soldos, no concelho de Tomar, se fecha sobre si mesma e abre portas aos festivaleiros que procuram, tanto como música de qualidade, a genuinidade da música que surge a cada momento, em qualquer lugar, como já não se pensava ser possível.
Em 4 dias de avaliação do futuro, do festival e da música portuguesa que 55 nomes representarão de 14 a 17 de Agosto, a evolução, os destaques e o impacto de um festival que se nacionalizou a partir de uma aldeia que com ele beneficia no antes, durante e depois são questões para Luís Ferreira, director artístico do festival, responder.





BandCom (BC): Até chegarmos à edição deste ano, o Festival BONS SONS passou por algumas transformações e redimensionou-se à escala de um festival de impacto nacional. De que forma estas alterações impactam a aldeia de Cem Soldos e também o espírito deste festival?

Luís Ferreira (LF): Até ao momento o impacto tem sido positivo. Temos conseguido chegar ao nosso público. A todos aqueles que gostam de música e valorizam a aldeia. Desde o início que nos consideramos uma plataforma de divulgação da música portuguesa e é nesse sentido que queremos continuar a trabalhar. O crescimento mediatico é um resultado desse trabalho e todos saímos beneficiados. Os olhares nacionais tornam-nos também mais exigentes com o nosso trabalho. Com a diversidade e qualidade da actual oferta musical nacional o BONS SONS não tinha outra hipótese senão crescer.


BC: Ao contrário de outros festivais de Verão, o BONS SONS surge integrado no plano de actividades de uma associação local. Ou seja, é um festival feito por quem é de Cem Soldos em Cem Soldos. Além disto, há três palcos no festival que continuam a beber o seu nome de figuras marcantes da história da música portuguesa – Palco Lopes Graça, Palco Giacometti, Palco Aguardela – e continua a haver um espaço para A Música Portuguesa A Gostar Dela Própria e agora para os Prémios Megafone que se
preocupam com quem lida de uma forma original com o que é tradicional. É por aqui,
pelo apego às raízes e às pequenas homenagens à História, que poderá passar o que
vos distinga de outros festivais?

LF: Esse é um dos olhares do festival mas não é o único. Valorizamos a identidade e o legado cultural, tanto colectivo como individual. É esse o reconhecimento que queremos fazer com as homenagens a este três visionários que dedicaram o seu trabalho ao estudo das tradições para as poderem transportar para actualidade de cada um. Não vivemos da cristalização do passado mas queremos trabalhar numa vanguarda e num presente que dá pistas de futuro. O futuro não se consigna à construção de prédios espelhados nas grandes cidades. Também o espaço rural evolui e não está condicionado apenas aos queijos e enchidos. É neste lado mais orgânico e ambíguo que queremos trabalhar. Uma espécie de futuro evolutivo que vive das referências do passado e as transporta para o futuro. Um presente atento aos novos estímulos e que os abraça sem recorrer a rótulos e a definições segregadoras.


BC: No mesmo fim-de-semana do Festival BONS SONS 2014 haverá, pelo menos, 3 outros cartazes, 3 outros festivais de impacto nacional destinados a públicos semelhantes e também com uma forte aposta na música nacional. Como comentam este facto? É uma situação que por vós deverá/poderá ser alterada?

LF: Este fenómeno mostra que, em 2006, estávamos certos. Certos que a música nacional iria criar o seu espaço e que haveria público para um festival de música portuguesa. Agora, após uma longa caminhada, há espaço para muitos mais. Estamos a fechar o primeiro ciclo de 5 edições. Após esta edição, que esperamos que corra bem, iremos repensar o nosso modelo. O nosso modelo nunca foi confortável até pela grande diferença face aos outros festivais. O BONS SONS nasce da vontade e mobilização de toda uma Aldeia na divulgação da música portuguesa e da nova ruralidade, sem intervenção de uma produtora, focada na obtenção de lucro. Entre cada edição colocámos sempre novos desafios e quisemos levar o espírito desta Aldeia a todos. Neste momento, vivemos a moda dos festivais e, dentro de pouco tempo, apenas ficarão os que têm realmente efeitos e que não vivem apenas de modas. A palavra "Festival" é demasiado lata e abarca muitos eventos que nada têm a ver uns com os outros, tanto nos seus objectivos como na sua oferta.


BC: Não se repetem nomes de 5 em 5 anos, não se realiza um festival de ano a ano mas sim a cada dois anos. São princípios de que continuarão a não abdicar?

LF: Essa será uma reflexão que vamos fazer após esta edição. Dois anos pareceu-nos um intervalo razoável para minimizar o impacto na Aldeia que queremos partilhar e também para nos dedicarmos a outros projectos de desenvolvimento local. Os únicos dogmas do BONS SONS são a promoção da música e cultura portuguesa e a vivência da aldeia de Cem Soldos. Todos os outros modelos são mutáveis caso nos faça sentido.





BC: O cartaz do BONS SONS 2014 foi conhecido na sua totalidade mesmo antes de terminar o período para compra de entradas a preço reduzido. É mais fácil atrair público sabendo este já totalmente ao que vem?

LF: Muitos são aqueles que já vêm ao BONS SONS pelo seu conceito e pela coerência da sua programação. Contudo, gostamos que estejam alinhados com o programa. Queremos continuar a ser um festival para quem gosta e valoriza a música. Além de organizadores de um Festival especial, de nos partilharmos entre ambientes rurais e urbanos, também somos consumidores de música e de outros Festivais.  Assim, também pensamos o festival com todas as características que gostaríamos de sempre ter. É este profissionalismo e compromisso com o público que depois amplifica a vivência da aldeia.


BC: A 2a edição dos Prémios Megafone, um Palco Rua com destaque para a originalidade e o festival Walk&Talk integram também este ano o Bons Sons. Quais as vossas expectativas para estas novidades? Serão para continuar?

LF: Acreditamos que são para continuar. Os Prémios Megafone estão completamente ajustados aos nossos objectivos e gostávamos de perpetuar esta parceria. Estamos certos que todas as restantes novidades são para continuar.


BC: Este ano apostaram também na realização de duas acções de lançamento, uma em Lisboa, outra no Porto, e ainda uma noite no Musicbox dedicada ao festival. Qual o balanço destes eventos?

LF: O balanço é positivo. Com estas acções pretendemos relembrar que é ano de BONS SONS e tentar chegar a outros públicos. Queremos que o Festival seja também o propósito para o debate de ideias em torno do desenvolvimento da Música Portuguesa, da indústria musical e a perspectiva sobre os vários públicos.  Por sermos um festival bienal queremos promover atempadamente um maior envolvimento das pessoas na reflexão destes aspectos. Assim também conseguimos colocar o festival nas agendas de todos com estas multiplicações e prequelas de aquecimento para o BONS SONS.


BC: Tal como a música portuguesa, o cartaz do Bons Sons 2014 também já chega
além-fronteiras? Já têm dados que vos permitam confirmar a presença de público
estrangeiro no festival?

LF: Sim, embora de uma forma tímida. Nas edições anteriores tivemos alguns países convidados (Brasil, Cabo Verde e Espanha) que abriram o festival ao mundo e criaram alguma visibilidade nos media internacionais. Sabemos de antemão que vários grupos internacionais estão a organizar-se para vir ao BONS SONS. Contudo, ainda investimos pouco nesse sentido. Será, sem dúvida, um dos grandes objectivos das próximas 5 edições.


BC: Para terminar, quais serão os outros pontos de interesse do festival e não só que também merecem destaque?

LF: Gostamos de trabalhar em parceria e em cada edição aumentamos a nossa rede. Nesta edição as actividades paralelas são resultado de várias parcerias, como os passeios de burro (AEPGA - Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino), os projectos de arte urbana (Walk&Talk - festival de arte urbana), os concertos na igreja (MPAGDP - Música Portuguesa a Gostar dela Própria), a Noite Prémios Megafone (Associação Megafone), as sessões de curtas metragens (Curtas em Flagrante) e a música para crianças (Associação Canto Firme). Acreditamos que estas actividades fortalecem o programa do BONS SONS e amplificam a descoberta de Cem Soldos. Sendo o BONS SONS um evento cultural queremos que o seu programa seja mais vasto e para isso trabalhamos com quem já está do terreno e o faz muito bem.


BC: Já se pensa na próxima edição e na comemoração dos 10 anos desde a primeira edição do festival?

LF: Sim, estamos apenas à espera do sucesso desta edição para confirmarmos a nossa perspectiva para o futuro do BONS SONS. O festival é "apenas" um dos projectos que estamos levar a bom porto, em Cem Soldos. É o nosso projecto embaixador e o elemento agregador de toda a acção da associação.





André Gomes de Abreu




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