quarta-feira, 25 de junho de 2014

UANINAUEI - "Dona Vitória" (Capote Música, 2014)




Quatro anos depois do disco de estreia e um ano após o EP "Menina Vitória", eis que surge o segundo álbum de originais dos alentejanos Uaninauei. "Dona Vitória” surge como a evolução natural do primeiro trabalho onde o rock apresenta-se como elemento aglutinador de um conjunto de temas que demonstram uma apetência para criar grandes canções como já vem sendo hábito neste quinteto de Évora. Excelentes letras que retratam de forma crua e direta diversos aspetos da vida; uma instrumentação extremamente competente e eficaz na criação do ambiente propício a cada uma das músicas; uma prestação vocal incólume do princípio ao fim e umas pitadas de rock progressivo e até mesmo de folk na sua vertente mais pesada são, em traços gerais, os ingredientes que fazem de “Dona Vitória” um registo a ter em atenção.




O arranque faz-se de forma decidida com a melodia q.b., o bom refrão e um riff principal interessante de “Gémeo Mau”, a que se segue “Maria Manuela”, que serve de exemplo quanto à já referida  instrumentação que se revela bem oleada. Boas melodias de guitarra, um bom suporte do baixo ao longo do tema e uma boa interpretação do homem das baquetas produzem uma atmosfera algo etérea com resquícios de rock progressivo aqui e ali.
Em “Assaltos Legais” voltamos aos ritmos galopantes, com o seu refrão orelhudo e um bom solo de guitarra perto do final bem ao estilo hard rock antes de “Aldeia Sem Taberna”, a faixa mais longa do registo com cerca de 8 minutos. Talvez por isso haja espaço para a mudança de ritmos que aqui encontramos: um começo de forma arrastada e pesada, enquadrando-se perfeitamente com o conteúdo da letra - o refúgio no álcool como forma de fugir à desilusão de uma vida vazia e sem amor - a levar-nos até um final em que somos confrontados com algo que poderia ser retirado de um LP de folk metal de alguma banda oriunda do norte da Europa. São variações como esta que prendem o ouvinte e contribuem como fator de inesgotabilidade do disco.







Seguimos então para “Limites do Juízo”, faixa bem ao estilo rock, acelerado, com bons arranjos e riffs pesadões que funciona como uma sátira/crítica à adição das massas ao nonsense praticado pelos media em geral, com excertos áudio retirados de alguns conhecidos programas popularizados nos órgãos de comunicação social e que ilustram bem a mensagem que a banda quer passar. A sucessora “Nascer Crescer Morrer” conta com as participações especiais de Joana Margaça (voz) e Tó Zé Bexiga (teclado) em destaque naquela que é uma verdadeira ode à vida, com todas as suas transformações, enquanto em “Adamastor” continuamos num tom declaradamente rock, pesado e enérgico num clima apocalíptico emergente, fazendo jus ao título.
Já na recta final, ingressamos em “Virgem do Descanso”, um tema algo corrosivo e igualmente melódico, com laivos de art rock muito ao estilo duns Tool e com uma prestação vocal em evidência, e na rockeira “Cabeça de Motor”, curta e sem grandes rodeios.


Em “Dona Vitória”, os Uaninauei conseguiram produzir um disco de qualidade indiscutível que facilmente agarrará os fãs de rock em geral, bem como aqueles que apreciam as vertentes mais complexas do género. Como bónus, temos o facto de este ser um trabalho inteiramente em português o que, não sendo por si só sinónimo de qualidade é, indubitavelmente, algo de salutar. Sem dúvida, um álbum a descobrir e redescobrir por muito tempo.



Hugo Gonçalves




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