domingo, 22 de junho de 2014

DE E POR: MODERN JUNGLEMAN - "Woman From Dogtown" (Cogwheel Records, 2014)

Alexandre Pereira, Mário Jader, Rui Carneiro e Diogo Esteves formam desde 2012 o quarteto aveirense Modern Jungleman, que acaba de lançar o EP de estreia "Woman From Dogtown", pelo selo de Coimbra da Cogwheel Records. Depois do Maioàbrir da final do concurso de bandas do festival Loureiras Beats, foram precisamente Alexandre e Mário que acederam ao nosso convite para falar um pouco mais sobre cada uma das 5 canções que fazem parte deste registo onde é claro que as influências pessoais de cada elemento transparecem e em que o rock é o elemento principal, sem nunca ganhar peso suficiente para sair de um ambiente mais alternativo.





The Prophet

Apesar de ter sido a última música a ser feita para o EP, é capaz de ser a mais antiga. Quando ainda éramos só três tínhamos uma base inicial já feita e um dia quando o Mário voltou a pegar nela, descobrimos algumas parecenças bastante descaradas com o riff da "Jesus Christ Pose" dos Soundgarden, o que nos obrigou a remodelar a estrutura e mesmo a melodia da própria música, deixando apenas o refrão antigo que tínhamos.
A canção fala dos falsos profetas, ou melhor dizendo, dos viciados em drogas. Este, em especial, não está perdido nas suas ilusões, sabe bem da sua realidade, como se destaca no refrão. Ele quer libertar-se do vício, saber o que há para lá da escuridão, porque sabe que, no fundo, aquele mundo é um autêntico vazio… mas, por outro lado, não quer enfrentar a outra realidade, que é de ficar limpo e ter uma vida estável. Curiosamente, embora tenha sido a nossa última composição, já desde o início da banda que queríamos fazer um registo assim: negro, pesado, mas que no fundo do seu ser, há uma luz, algo de positivo para agarrar. É, sem dúvida, dedicada a uma realidade tão presente nas grandes cidades.


Shadow Man

Foi das primeiras a sair das nossas mentes e a razão por o nosso EP ser tão conceptual. E uma das razões por ser uma música tão especial para nós, foi por ser tão natural. Ao contrário da "The Prophet", por exemplo, em que tivemos que analisar rigorosamente cada sequência, mudança de ritmos, quebras, solos, intensidade do refrão, na "Shadow Man" foi um processo quase como em piloto automático. A composição é praticamente toda do Mário. Ele fez uns dedilhados, levou para o estúdio e tocou com um refrão improvisado. Gostámos imenso a partir logo desse momento, pelo ambiente a fazer lembrar uns The Doors menos efusivos. Era a nossa “balada”! E não mudámos praticamente nada desde então, tirando a inclusão de um sintetizador para dar ambiente e corpo à melodia. É uma música sobre o amor e paixão e as diferentes dimensões emocionais de cada um. Acaba por ser uma letra pessoal, metaforizada pelo amor incondicional do "Shadow Man" pelas suas vitimas.


Bloom

"Bloom", a música feita por experiências vividas. É sobre Dogtown, quando a luz da Lua ilumina toda a cidade, quando os falsos profetas, prostitutas, corrupção, tudo sai para a rua. Existe quase um lado apocalíptico neste canção. Ficámos rendidos, porque é diferente, é única. É o conceito no seu auge. Muito obscura, mas com uma enorme sensibilidade!
Até à última hora estivemos na dúvida se a devíamos incluir ou não no alinhamento do EP, com receio do resultado final e de como soaria no seu todo, mas depois do excelente trabalho do Duarte na sua produção não tivemos mais dúvidas. Em termos de composição, a música surge numa altura em que o Alex estava viciado no "Animals" dos Pink Floyd mas só tinha com ele uma guitarra clássica, sendo que o resultado saiu um pouco ao “lado”. Ele começou por fazer os primeiros segundos, enquanto o Mário arranjou logo um refrão para o processo. A ideia de inserir o violoncelo na última parte da música veio também de um desvario de madrugada com alguns copos à mistura, estávamos já nós em Coimbra a meio das gravações.
Queríamos que esta música soasse como um ritual. E, na nossa opinião é isso mesmo: um ritual de todas as nossas personagens. A letra é vaga, mas é uma letra carregada de significados e experiências que todos nós passámos.


Woman From Dogtown

O Nick Cave bateu-nos à porta e era por esses lados que queríamos andar, nuns blues mais crus e disfuncionais – também a pedido do Mário -  mas onde pudéssemos meter algo de nós, que nos caracterizasse. A personagem Henry Lee é um ponto fulcral e acho que os fãs do mesmo tenham notado ou vão notar isso. O processo de composição foi muito parecido com a "Bloom". O Alex trouxe uns acordes e o Mário completou o resto. Tanto esta, como a anterior provam a nossa empatia na criação de melodias, como músicos. Precisamos sempre um do outro. Quanto à letra, o Mário tentou escrever algo muito objectivo, uma história. Tendo já algumas bases do conceito, foi só criar mais uma personagem: a prostituta de Dogtown. Uma mulher bela, destruindo relacionamentos, casamentos, tudo em troca de dinheiro, ouro. Durante imenso tempo tocámos esta música ao vivo sem metade dos solos que estão hoje na versão final, sendo que a maioria foi mesmo aparecendo com o tempo, numa certa necessidade de preencher o “vazio”. É uma música com grande densidade sexual. Tentamos fazer com que o refrão fosse isso mesmo, sexo em melodias.


This Is Not The World That I've Made

[Mário] Das músicas mais recentes que fizemos, esta foi a escolhida para ser o nosso primeiro single. A composição vem quase toda da mente do Alex. Desde o dia em que ele me mostrou eu sabia que tinha de desviá-la do conceito do EP. Queríamos que soasse como uma música duma geração, e, neste caso, é sobre a nossa, sobre a geração portuguesa actual e as dificuldades que muitos jovens passam actualmente, devido à austeridade e à própria crise da Europa. É sobre isso o conteúdo das letras desta música. O desejo de abandonar tudo e partir para uma nova realidade. O disco em si é obscuro. Mas nesta música, é como uma despedida, uma desfragmentação completa do ser, uma mudança! Um adeus a Dogtown! A escolha certa para encerrar esta história. 




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