terça-feira, 25 de março de 2014

MR. HERBERT QUAIN - FORGETTING IS A LIABILITY (2014, Zigur Artists)

Título: Forgetting is a Liability
Edição: Março de 2014, Zigur Artists
Classificação final: 8.9/10

Se o disco que Mr. Herbert Quain editou em 2012 nos trouxe uma abordagem bastante peculiar à música que este personagem imaginária ia pensando, Forgetting is a Liability, o seu mais recente disco novamente carimbado pela Zigur Artists, é o consolidar de todo um processo que já não se adivinhava propriamente difícil: é apenas uma confirmação daquilo que já se previa, daquilo que já nos ia ficando na cabeça, de que Mr. Herbert Quain é uma valia segura na música electrónica nacional.

Quando em 2012 se fez editar How I Learned to Stop Worrying and Start Loving the Waiting, existia uma espécie de entrave que fazia com as suas bonitas peças não se conchavassem entre si para formar um belo puzzle. Mesmo sendo bonitas, todas elas caiam numa espécie de repetição que agregavam entre si resquícios de soul e de jazz. Em Forgetting is a Liability, a essência acaba por ser a mesma, não se assiste a uma saída de um porto de abrigo que já na altura parecia ser um habitat natural para as paixões de Herbert. Os ritmos do disco são lentos e acabam por se conjugar com uma ênfase tremenda que se vão dando aos beats que surgem à medida que os samples se desenrolando. Nem tudo nasce efectivamente do jazz ou da soul, há, por exemplo, The Breeders, banda de Kim Deal, ex-baixista dos Pixies, em loop em “Now”, mas a verdade é que acaba por tudo lá ir desaguar. A priori, experimentar numa estrutura única duas texturas totalmente diferentes seria um risco, mas a verdade é que existe por aqui uma maturidade imensa. Brinca-se com o fogo, não há queimaduras.

A Primavera ainda agora começou, qualquer dia começamos a ver as aves migratórias a rondar as árvores das nossas cidades, o Sol vai finalmente, esperemos, a ser uma coia regular no nosso quotidiano enquanto a chuva, vai, ocasionalmente, estando sempre à espreita. Forgetting is a Liability é um disco extremamente apropriado a esta altura do ano. O sol, ou a luz, está sempre lá, respondemos-lhe com um abanar a cabeça e um sorriso estampado na nossa cara. As andorinhas voam de spot em spot, mas sabemos que realmente andam, ou confluem, sempre com os sítios pertencentes à mesa esfera – é uma metáfora para o processo de samplagem de todo o disco. A chuva, fortalecida pelos vestígios de trip-hop que nos vão chegando, também está sempre à espreita, mas acaba por nunca vociferar mais alto do que o Sol. Para este disco, são válidas todas as metáforas do mundo, mas nem todas se encaixarão tão bem quanto as próprias canções do disco se ligam umas às outras. A vitória está confirmada, aqui há belas peças e um puzzle soberbo.


Emanuel Graça




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