Título: Forgetting
is a Liability
Edição: Março de 2014, Zigur Artists
Classificação final: 8.9/10
Se o disco
que Mr. Herbert Quain editou em 2012
nos trouxe uma abordagem bastante peculiar à música que este personagem
imaginária ia pensando, Forgetting is a
Liability, o seu mais recente disco novamente carimbado pela Zigur Artists, é o consolidar de todo um
processo que já não se adivinhava propriamente difícil: é apenas uma
confirmação daquilo que já se previa, daquilo que já nos ia ficando na cabeça,
de que Mr. Herbert Quain é uma valia
segura na música electrónica nacional.
Quando em
2012 se fez editar How I Learned to Stop
Worrying and Start Loving the Waiting, existia uma espécie de entrave que
fazia com as suas bonitas peças não se conchavassem entre si para formar um
belo puzzle. Mesmo sendo bonitas, todas elas caiam numa espécie de repetição
que agregavam entre si resquícios de soul
e de jazz. Em Forgetting is a Liability, a essência
acaba por ser a mesma, não se assiste a uma saída de um porto de abrigo que já
na altura parecia ser um habitat natural para as paixões de Herbert. Os ritmos
do disco são lentos e acabam por se conjugar com uma ênfase tremenda que se vão
dando aos beats que surgem à medida que os samples se desenrolando. Nem tudo
nasce efectivamente do jazz ou da soul, há, por exemplo, The Breeders, banda de Kim Deal,
ex-baixista dos Pixies, em loop em “Now”, mas a verdade é que acaba
por tudo lá ir desaguar. A priori,
experimentar numa estrutura única duas texturas totalmente diferentes seria um
risco, mas a verdade é que existe por aqui uma maturidade imensa. Brinca-se com
o fogo, não há queimaduras.
A Primavera
ainda agora começou, qualquer dia começamos a ver as aves migratórias a rondar
as árvores das nossas cidades, o Sol vai finalmente, esperemos, a ser uma coia
regular no nosso quotidiano enquanto a chuva, vai, ocasionalmente, estando
sempre à espreita. Forgetting is a
Liability é um disco extremamente apropriado a esta altura do ano. O sol, ou
a luz, está sempre lá, respondemos-lhe com um abanar a cabeça e um sorriso
estampado na nossa cara. As andorinhas voam de spot em spot, mas sabemos que
realmente andam, ou confluem, sempre com os sítios pertencentes à mesa esfera –
é uma metáfora para o processo de samplagem
de todo o disco. A chuva, fortalecida pelos vestígios de trip-hop que nos vão chegando, também está sempre à espreita, mas
acaba por nunca vociferar mais alto do que o Sol. Para este disco, são válidas
todas as metáforas do mundo, mas nem todas se encaixarão tão bem quanto as
próprias canções do disco se ligam umas às outras. A vitória está confirmada,
aqui há belas peças e um puzzle
soberbo.
Emanuel Graça
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