É no meio de uma época em que post-rock é um rótulo estagnado e indesejado e em que pop é, contas feitas, a maioria do que se produz que os First Breath After Coma tentam capitalizar os créditos conseguidos com "The Escape", single de introdução a "The Misadventures of Anthony Knivet" apresentado a meias com "Bollywood", um dos últimos singles da estreia dos Nice Weather For Ducks com "Quack!", e que se entoa sobre camadas de éter.
Tal como os colegas de editora, os Novos Talentos First Breath After Coma tiveram de se reinventar a caminho do disco de estreia, tanto com uma reformação como com uma refinação. Cânones e orações twee-indie-pop à deriva nas fundações do post-rock ou vice-versa, mas com menos efusividade e mais dedicados a embalar a fragilidade dos Sigur Rós e dos próprios Explosions in The Sky com pequenos traços electrónicos que se lamentam por escassear. Parece que não precisam disso para estar à frente do apocalipse sensorial de um M83.
A ponte com as memórias do explorador Anthony Knivet revela-se a bússola ideal para uma conceptualização de longa-duração que os liga de forma sanguínea aos movimentos tectónicos das ondas de silêncios e de perda de consciência que deslizam maviosamente de tempo em tempo. Parar para sorrir e admirar propaga-se melhor quando a expectativa é mais ténue: essa é a simplicidade de processos que utilizam e acrescentam.
A suspensão da respiração é arte que por estes lados desperta sempre, como em "Punch The Air", "Knivet" e "Almadraba", da forma milagrosa com que os interlúdios "Skáphos" e "Andro" procuram pequenos novos focos de luz e não um holofote gigante.
Num filme sempre pop, numa película sempre nítrica, logo ao primeiro fotograma, os First Breath After Coma são inesquecíveis. O seu destino é a memória colectiva.
André Gomes de Abreu
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