sábado, 14 de setembro de 2013

PEIXE:AVIÃO : PEIXE:AVIÃO (2013, PAD)

Ao terceiro disco, os peixe:avião emprestam o seu nome a um conjunto de 9 canções que definitivamente afastam a banda dos caminhos mais óbvios para se chegar a um disco de música dita alternativa. Ao mesmo tempo, ainda andam por aqui as canções luminosas de "Finjo A Fazer de Conta Feito Peixe:Avião", o sentido de descoberta de "40:02" e a maturidade e afirmação do último "Madrugada". Ainda podem andar aqui referências aos Radiohead, mas só se verão escavadas até ao tutano; ainda poderão andar letras e mensagens de cariz pessoal e vivencial, mas o filtro e o seu tratamento serão completamente outros.


Um dos aspectos essenciais que marca qualquer ensinamento sobre os peixe:avião é a sua capacidade de dar o máximo a partir do mínimo, algo comum a todos os bons artistas que por cá aparecem, e, sobretudo, conseguirem de forma exemplar explodir para universos inesperados. Nem mesmo os Mão Morta, a que se equiparam na excelência do conteúdo lírico e sonoro, o conseguiram fazer tão cedo ou tantas vezes. Aliás, para polícias da língua, chamem-nos ainda ontem, de preferência.
Escolhendo uma vez mais a densidade ao educar na conspicuidade e urbanidade silêncios, indie-rock e electrónicas atonais (= Luís "The Astroboy" Fernandes é um dos membros do grupo, ok?), caem "Torres de Papel" e "Avesso", os verdadeiros oscilómetros desfigurados deste registo, e "Ponto de Fuga": desenrolada de camadas kraut que vai colando ouvidos a texturas de uma canção que segue a fragilidade das palavras anexas partilhada em "Prismas", embora com um resultado menos árido e menos solitário.  
Sem dúvida, é presente muito trabalho de visão e de revisão a todos os níveis, identificado facilmente quando as canções se tornam cantigas, das que gostamos de ouvir ou de que nem sabemos disso, e fica a crueza mas desilude-se do experimentalismo e a sua arquitectura intricada aqui característica. 







Poderíamos estar a falar em breve de um caso igual ao dos Clã, em que tantas qualidades não são mediáticas, mas o que é terreno musicalmente convive com o que é subliminar na mensagem. Não sendo de esperar que isso venha a suceder, certo é que chegar ao fim e contar o tempo aos "40:02" já não marca um começo, mas sim um profundo esclarecimento do que num tubo de ensaio borbulha como mais um objecto de colecção.


André Gomes de Abreu




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