terça-feira, 17 de setembro de 2013

NOISERV - "ALMOST VISIBLE ORCHESTRA" (2013, Ed. Autor)

Depois de "One Hundred Miles From Thoughtlessness" em 2008 e do EP "A Day In The Day Of The Days" de há três anos, surgirá no próximo dia 7 de Outubro o disco "Almost Visible Orchestra". Com 10 faixas e 30 minutos de estratos musicais acumulados paulatinamente, AVO é acima de tudo um álbum perfeitamente coerente, em simbiose com o que o artista Noiserv tem vindo a desenvolver nestes últimos cinco anos.Neste disco, David Santos aparece também acompanhado pelos seus melhores amigos musicais: os "You Can't Win Charlie Brown"ers Afonso Cabral e Salvador Menezes, Luís Nunes (Walter Benjamim), Rita Pereira (Rita Redshoes), Luísa Sobral, Esperi e Francisca Cortesão (Minta), todos em "I Was Trying To Sleep When Everyone Woke Up", das últimas do alinhamento. Em ligeira rotura com a sua interpretação e expressão das suas próprias histórias, esta é uma pequena revolução que no entanto acaba por dar lugar a que todas estas vozes sejam usadas, moldadas mas capazes de provocar no auditor a mesma emoção, o mesmo deslumbramento, o mesmo sonho que qualquer outro artefato instrumental que surge pelo registo.



Em todas as canções, acabam por serem respeitadas as instruções dos álbuns precedentes, com cada instrumento a aparecer um por um, suavemente. A voz de David Santos vai acompanhando, de forma apaziguadora, as viagens que o seu corpo vai expelindo para as máquinas como se estivesse a contar a história de comboios que dormem na cama prevista para o efeito. Com "Today Is The Same As Yesterday But Yesterday Is Not Today", o álbum começa forte, com uma melancolia que se tem muito pouco visto na música portuguesa, uma tristeza incrivelmente positiva saída directamente do universo de Noiserv no tema que talvez melhor exprime o primeiro sentimento que nos vem à primeira escuta. "It’s Easy To Be A Marathoner Even If Your Are A Carpenter" podia ser tema para uma banda-sonora e podia muito bem ter nascido depois de uma leitura do "Cemitério de Pianos" de José Luis Peixoto. O uso de um piano subtil, uma gravidade quase fúnebre, uma emoção que se desprende do tema, com leves gotas a caírem a cada nota de piano. 
"I Am Not Afraid Of What I Can’t Do" e "47 Seconds Are Enough If You Only Have One Thing To" ouvem-se juntas e revelam a mestria do artista que mesmo ao usar caixinhas de música como ferramentas musicais nunca torna a sua música cliché, ingénua ou sem originalidade. Em "Life Is Like A Friend Egg, Once Perfect Everyone Wants To Destroy" regressam a perícia e a pertinência emotiva, num ambiente onírico mas no entanto ameaçado, como o sugere o título da faixa. A humildade do intérprete, a priori uma antítese da omnipresença de um quase "culto do eu", faz o resto a partir do minuto 1:30 nessa parte quase visível de uma orquestra autocentrada.



Os tormentos e as repetições, as incertezas e as hesitações, saltam à vista em "I Will Try To Stop Thinking About A Way To Stop Thinking". No mesmo espírito de litania, segue-se "It’s Useless To Think About Something Bad Without Something Good To Compare", cheia de positivismo renascido de melancolia. Com título e tempo adequados para um adeus em condições, "Don’t Say Hi If You Don’t Have Time For A Nice Goodbye" tem traços mais comerciais de pop eficaz mas singular no Portugal musical à beira-mar plantado.
"Almost Visible Orchestra" é, como tudo o indicava, sem dúvidas um dos álbuns de 2013, que não desiludirá em nenhum aspeto os fãs do artista e das suas sonoridades peculiares. Mesmo sem arriscar muito, está aqui um trabalho que, na sua paixão pela composição, transpira a humanidade de quem está pronto para partir em pedaços as vidas e interrogações de todos.
 



Mickaël C. de Oliveira




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