Tiago Sousa é um autodidacta,
afasta-se do jazz, da música clássica
e da música mais ambiental, mantendo-se, no entanto, equidistante de todas elas, inqualificável
no seu estilo e livre na sua abordagem simples e bela a
um instrumento tradicionalmente fechado no seu ecletismo formal e académico. A sua música é feita unicamente para ser desfrutada com o mesmo prazer com que é criada,
esse deleite que é transparente quando o vemos diante dos nossos ouvidos, a criar, a cada nova interpretação.
O Gallery Hostel é um local simpático.
Para além de bonito e bem decorado, sabe receber os artistas e quem os vem ver
e propicia momentos de agradável intimidade entre os fãs e os seus ídolos, como
foi o caso deste concerto curto, porém marcante. O piano não era o melhor, mas Tiago fez-nos
esquecer esse pequeno detalhe com o ambiente descontraído e intimista que criou
na pequena sala onde decorreu o concerto. Tocou temas novos do seu muito
aguardado primeiro álbum a solo Samsara (terceiro álbum da sua discografia), que complementou com o regresso a algumas
melodias mais sonantes do seu anterior Walden Pond´s Monk, baseado no
fabuloso Walden, de Henry David Thoreau.
Tiago Sousa destaca-se pela linguagem única que imprime ao piano. |
A evolução
no seu estilo é um dos pontos que mais se destacam no que Tiago nos mostrou de Samsara, uma nova desenvoltura no
desvelar das melodias e no modo como aborda cada nota, focando-se na repetição
de padrões melódicos que desembocam em inesperadas conclusões de uma beleza
quase comovente, que, por onde quer que me virasse, desenhava sorrisos
involuntários em quem, de repente, se via cúmplice de um momento de partilha
irrepetível. Tiago Sousa merece uma sala maior e um piano da dimensão
do seu talento imenso. Mas a verdade é que a sua criatividade está por aí, nesses
escaparates para onde poucos ainda olham. Procurem a ave colorida na capa e
tragam-no convosco. Com certeza não se
arrependerão.
Texto e fotografias: Paulo Silva
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