Ermo é o nome do projecto
formado no Verão de 2011 por António
Costa e Bernardo Barbosa, dois
jovens naturais da cidade de Braga. Começaram desde cedo a divulgar algumas
músicas através do seu bandcamp, conquistando, de imediato, algum público, que
tem vindo a aumentar com concertos um pouco por todo o norte de Portugal,
destacando-se uma actuação no Theatro Circo, em Braga, ao lado dos conterrâneos
Simx
Smox Smux.
A sua música é fortemente marcada
por melodias obscuras, manifestações de interioridade e abordagens líricas. Mas
o que os Ermo fazem não pode ser apelidado apenas de música, é muito
mais que isso, é poesia, é expressão de sentimentos, é o reviver de figuras do
passado, é a criação de uma nova estética musical.
No início de Outubro passado
lançaram o seu primeiro EP, ao qual
não foi dado título. Esta edição é constituída por 5 faixas que contabilizam
menos de 20 minutos de música e giram à volta do mito do Quinto Império,
abordando o passado, o presente e o futuro da nação. Tal como nas suas canções
apresentadas anteriormente a este EP, a música dos Ermo apresenta uma grande
maturidade, bastante surpreendente e cada vez mais rara no mundo que nos
rodeia.
Deixando um pouco a música de
lado, porque não é a única coisa que importa num álbum, os Ermo brindam-nos também com
um prefácio de Adolfo Luxúria Canibal
e ilustrações de Rui Itálico,
factores que dão ainda mais força a esta
edição do jovem duo de Bracarense.
À imagem do EP, a primeira faixa também não tem nome. Este pequeno tema
apresenta um excerto do hino nacional desconstruído e adaptado à negra
realidade actual da nação. “Heróis do
mar, Parco povo, Triste berço, Triste sal. Lembrai, Oh negros mares o esplendor
de Portugal.” é o inicio desta canção que representa o declínio de um país
tão esplendoroso em tempos longínquos.
Segue-se Destronado, faixa minimalista composta apenas por voz e piano que
fala de um tal “Rei Conquistador”, que se apresenta triste e abandonado por uma
nação da qual queria ser herói mas da qual nunca recebeu mais do que mereceu.
Montalegre é o terceiro tema do EP,
e o mais antigo de todos. Esta ode à histórica vila do norte de Portugal surge
no entanto alterada relativamente ao tema que já tinha sido apresentado tanto
no bandcamp da banda como em actuações
ao vivo.
Dies Irae (Dias da Ira), título de um hino latim do século XIII que
descreve o Dia do Juízo Final, dá o nome ao quarto tema deste EP. Tanto a letra como a construção
instrumental desta canção apelam à reflexão de um Portugal cada vez mais
perdido e adormecido que necessita de encontrar um rumo que traga de volta o
esplendor de outros tempos. A alusão feita pelos Ermo ao Dia do Juízo
Final, através do nome deste tema, alerta para a urgência e importância desta
reflexão para o rumo do país.
O primeiro registo dos
bracarenses Ermo termina num Concílio. Este longo tema começa com um
diálogo entre António e Bernardo ensopado num ruído de fundo provado
por multidões e máquinas, ilustrando uma típica conversa de café em que está
presente o habitual maldizer do povo português e o seu estado de espirito. A
segunda metade deste tema inicia-se com um bonita junção de piano e vozes que
nos faz lembrar as lindas paisagens da música dos islandeses Sigur
Rós, culminando com a declamação de dois poemas, cada um no seu
auscultador, um representando a esperança (à esquerda) e outro representando a
coragem (à direita).
É difícil descrever o que se
sente ao ouvir esta homenagem ao Quinto Império materializada por dois jovens
que apenas conheceram o Portugal esplendoroso de histórias ouvidas e lidas.
Mais que um grande EP, estamos na presença de uma mensagem para a pátria que
transmite força e coragem através da invocação de feitos passados.
Este EP não foi uma surpresa nem
uma novidade para os que andam mais atentos. Não é aquela primeira edição que
nos chama a atenção e nos deixa curiosos para assistir ao desenvolvimento da
banda, mas sim uma confirmação do que já todos sabiam através das canções
lançadas pontualmente ou das suas prestações ao vivo. É claro que a curiosidade
no que aí vem também está presente, mas uma coisa é quase certa, o que virá
será bom.
Classificação Final: 7.9/10
Diogo Marçal
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