segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Ermo (2012)

Ermo é o nome do projecto formado no Verão de 2011 por António Costa e Bernardo Barbosa, dois jovens naturais da cidade de Braga. Começaram desde cedo a divulgar algumas músicas através do seu bandcamp, conquistando, de imediato, algum público, que tem vindo a aumentar com concertos um pouco por todo o norte de Portugal, destacando-se uma actuação no Theatro Circo, em Braga, ao lado dos conterrâneos Simx Smox Smux.


A sua música é fortemente marcada por melodias obscuras, manifestações de interioridade e abordagens líricas. Mas o que os Ermo fazem não pode ser apelidado apenas de música, é muito mais que isso, é poesia, é expressão de sentimentos, é o reviver de figuras do passado, é a criação de uma nova estética musical.

No início de Outubro passado lançaram o seu primeiro EP, ao qual não foi dado título. Esta edição é constituída por 5 faixas que contabilizam menos de 20 minutos de música e giram à volta do mito do Quinto Império, abordando o passado, o presente e o futuro da nação. Tal como nas suas canções apresentadas anteriormente a este EP, a música dos Ermo apresenta uma grande maturidade, bastante surpreendente e cada vez mais rara no mundo que nos rodeia.



Deixando um pouco a música de lado, porque não é a única coisa que importa num álbum, os Ermo brindam-nos também com um prefácio de Adolfo Luxúria Canibal e ilustrações de Rui Itálico, factores que dão ainda mais força a esta edição do jovem duo de Bracarense.

À imagem do EP, a primeira faixa também não tem nome. Este pequeno tema apresenta um excerto do hino nacional desconstruído e adaptado à negra realidade actual da nação. “Heróis do mar, Parco povo, Triste berço, Triste sal. Lembrai, Oh negros mares o esplendor de Portugal.” é o inicio desta canção que representa o declínio de um país tão esplendoroso em tempos longínquos.
Segue-se Destronado, faixa minimalista composta apenas por voz e piano que fala de um tal “Rei Conquistador”, que se apresenta triste e abandonado por uma nação da qual queria ser herói mas da qual nunca recebeu mais do que mereceu.

Montalegre é o terceiro tema do EP, e o mais antigo de todos. Esta ode à histórica vila do norte de Portugal surge no entanto alterada relativamente ao tema que já tinha sido apresentado tanto no bandcamp da banda como em actuações ao vivo.

Dies Irae (Dias da Ira), título de um hino latim do século XIII que descreve o Dia do Juízo Final, dá o nome ao quarto tema deste EP. Tanto a letra como a construção instrumental desta canção apelam à reflexão de um Portugal cada vez mais perdido e adormecido que necessita de encontrar um rumo que traga de volta o esplendor de outros tempos. A alusão feita pelos Ermo ao Dia do Juízo Final, através do nome deste tema, alerta para a urgência e importância desta reflexão para o rumo do país.

O primeiro registo dos bracarenses Ermo termina num Concílio. Este longo tema começa com um diálogo entre António e Bernardo ensopado num ruído de fundo provado por multidões e máquinas, ilustrando uma típica conversa de café em que está presente o habitual maldizer do povo português e o seu estado de espirito. A segunda metade deste tema inicia-se com um bonita junção de piano e vozes que nos faz lembrar as lindas paisagens da música dos islandeses Sigur Rós, culminando com a declamação de dois poemas, cada um no seu auscultador, um representando a esperança (à esquerda) e outro representando a coragem (à direita).

É difícil descrever o que se sente ao ouvir esta homenagem ao Quinto Império materializada por dois jovens que apenas conheceram o Portugal esplendoroso de histórias ouvidas e lidas. Mais que um grande EP, estamos na presença de uma mensagem para a pátria que transmite força e coragem através da invocação de feitos passados.

Este EP não foi uma surpresa nem uma novidade para os que andam mais atentos. Não é aquela primeira edição que nos chama a atenção e nos deixa curiosos para assistir ao desenvolvimento da banda, mas sim uma confirmação do que já todos sabiam através das canções lançadas pontualmente ou das suas prestações ao vivo. É claro que a curiosidade no que aí vem também está presente, mas uma coisa é quase certa, o que virá será bom.


Classificação Final: 7.9/10

Diogo Marçal




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