quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Throes + The Shine - Rockuduro (2012)


Throes + The Shine nasce de uma mescla de dois elementos que, à primeira vista, pouco ou nada têm em comum : o kuduro dos The Shine com os riffs do rock anglo-saxónico dos Throes.  A ideia do grupo surgiu por acaso, enquanto os membros conversavam à margem de um festival organizado pela editora Lovers & Lollypops, dando à luz um projeto que muitos apelariam de « híbrido », perdido no entre-dois, entre Angola e Portugal, entre rock e kuduro. Mas a verdade é que deste horizonte de opostos criou-se uma união improvável à volta deste álbum, autêntico hino à festa e à vida.

Para falar deste primeiro álbum Rockuduro, nada de análises sombrias e insípidas de lyrics, precisamos apenas de espaço à nossa volta, para podermos exprimir-nos de todas as maneiras menos pela fala. Logo à primeira música, saltamos para cima daquilo que tivermos mais ao alcance, já não sabemos bem se estamos mais próximos do Kamphopo dos The Very Best ou dos ritmos mais europeizados dos Vampire Weekend. Mas gritamos, queremos atenção, Ewe ! Os riffs são violentos, até chegamos quase ao ponto de esperar por um scream à angolana que nunca mais chega, e só temos uma certeza : se o álbum levar sempre a mesma força de batida, não vamos aguentar. Mas o tema é curto e já estamos noutra, que nos chega como uma seringa em pleno Tour, deixando-nos levar na ilusória leveza do rítmo, até à liberdade do refrão…  Até a Adrenalina.


Chega Batida e o medo instala-se : a tomada de risco é enorme, a repetição sendo usada e abusada até ao fim, lembrando os momentos mais saborosos do kuduro e dos seus videoclips, mesmo que menos radiofónicos. No refrão, regressamos aos Vampire Weekend, aos Fool’s Gold e já nos imaginamos junto à piscina do Surprise Hotel. E a Makumba faz o resto. Perdeu-se a estrutura da análise que tentei formar, arqueou-se. Desenham-se ângulos retos em minhas pernas. A festa continua, tudo passa num ritmo frenético, o baterista não abranda. E vem Hoje é festa, como se não tivéssemos dado por ela. O tema é mais retro, quase eightee, perdemos completamente a noção daquilo que somos, se a festa é hoje ou se hoje é festa, o principal é arquear também os braços, mover-se e aguentar até à música seguinte.



Mais leve, Tá maluca soa mais a música para seduzir, sensual ao ponto de lembrar os movimentos mais loucos do tema da kudurista Noite e Dia, do mesmo nome. Mais raras é para animar a malta, para respondermos sozinhos no nosso escritório em alto e bom som um « Ya, tá kuiar, continua nesse rítmo ». E como se nos tivessem ouvido, as guitarras soltam-se, o rock desprende-se, o slam invade a cena que imaginei, o suor invisível mas malcheiroso salpicando-me o rosto. O grupo baza, bato no chão até não ouvir mais nada, carrego no play e lanço Dança bué. Arqueio-me todo outra vez, preparo-me para o último salto, mas a música soa mais a um final de festa super-alcoolizada do que a um concerto para « acabar com uma pessoa ». No fim, restam estilhaços de frustração : o álbum é curto, e a primeira música devia ser a última. Ou então deixavam-na como primeira e última música.


Por isso, façam o mesmo, deixem-se de análises, arrumem o vosso quarto, esqueçam tudo, e dancem bué.



Mickaël C. de Oliveira




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