quinta-feira, 24 de maio de 2012

diabo na Cruz - Ritz Clube, 23 de Maio

No mês em que se re-estreia esta sala, que tenta recuperar a grandiosidade de há alguns anos atrás, os convidados de dia 23 foram os diabo na Cruz. A banda actuou na sala aquando do lançamento do seu segundo álbum, Roque Popular. Pelas 22 horas, começaram a aparecer os primeiros fãs e espectadores, para um espectáculo que apenas começaria uma hora depois. No Ritz Clube, o ambiente parecia perfeito para receber a banda: uma sala com uma história que se confunde com os últimos 100 anos da própria cidade que a acolhe, e, fisicamente, um edifício totalmente renovado mas com um glamour que nos faz duvidar do ano em que estamos. A ponte entre o novo e o velho. O tradicional e o moderno, a lição que Jorge Cruz e companhia nos andam a tentar ensinar e demonstrar que o tradicional também pode ser fresco. 

A sala começou verdadeiramente a encher pelas 22h30, onde uma multidão heterogénea, em tipos de pessoas e idades, começava a compor o espaço, que, obra do acaso, é dotado de cores vermelhas, perfeitamente em sintonia com a banda mais uma vez. Finalmente, a banda entra. Quem está no público e já os viu, sabe do que os diabo na Cruz são capazes ao vivo. Quem está e ainda não sabe disso, que se prepare.. A festa começa rija com "Baile na Eira", abrindo as hostes com o segundo tema de Roque Popular, e "Serra da Estrela", tema centrado em viagens e povos da beira interior, zona bem caracterizada pela letra. O gelo estava quebrado, e surgiu "Tão Lindo", na primeira explosão da noite, com direito a uma pequena jam tribal de percussão. Os refrões orelhudos começavam a ser cantados a mil gargantas, e rapidamente se percebe que o público é o 8º elemento dos diabo na Cruz (ao vivo, era 7 elementos, com uma guitarra eléctrica extra).

Começa o baixo dançante de "Os Loucos Estão Certos" e o público festejava este regresso a "Virou!", primeiro trabalho do grupo. Por esta altura, já era impressionante o que o público sabia das longas mas talentosas letras de Jorge Cruz - estava tudo na ponta da língua - ainda que sem lotar a 100% o Ritz. Acaba um baile, começa o outro, os diabo na Cruz são mesmo assim: "Sete Preces", o primeiro single do segundo registo, ganha outro poder ao vivo, e a plateia não deixa a banda descansar, naquele que é o melhor exemplo da nova música tradicional que consta do disco. "Combate com Batida" foi o som que se seguiu, que no "Combate EP" teve a colaboração de Sérgio Godinho. Jorge Cruz anuncia que o concerto vai ter de acalmar mas tem de ser, provavelmente para a saúde de todos os presentes. Antes de iniciar as hostes baladeiras com "Luzia", o vocalista fala de convidados ilustres na plateia, cumprimentando Samuel Úria e alguns elementos ligados à Flor Caveira que ali estavam, "pessoas bonitas" nas palavras do próprio. Começa a música e apesar da acalmia assumida, o volume não desce e a intensidade também não. O Ritz Clube já estava cheio por esta altura. 

"Um dois três, um dois três, segui-te na estrada, cantei-te para nada.." era o "Bico de um Prego" e estava feita a ponte para o resto da festa, com uma música que começa calma e bonita para acabar num ritmo mais acelerado, e em que primam as vozes da banda. E as do público, claro! E apesar de Roque Popular ser um grande álbum, é no Virou! que se ouve mais pessoas a cantar as letras dos diabo na Cruz, e o volume sobe um pouco cada vez que a banda revisita o disco. "Casamento" e "Dona Ligeirinha" provocaram o caos num público que já estava incendiado da primeira parte do concerto, a primeira mostrando que ao vivo se torna numa demonstração de blues rock frenético e a segunda no hit que já todos conhecemos, talvez a música mais conhecida do grupo. Em "Fronteira", percebemos que o espaço se tornou pequeno para os dnC: é uma música para ser tocada à noite num festival, num momento de pura intimidade com todos os presentes, numa música que vai crescendo envolta em melancolia e beleza. Recomeça o baile rock com "Siga a Rusga", num refrão todo poderoso que agita as filas até as filas mais afastadas do palco, onde se consegue captar toda a riqueza instrumental e vocal da banda, num complexo equilíbrio sonoro entre, duas guitarras eléctricas, uma braguesa, uma bateria, um set de percussão, um teclado e o ocasional cavaquinho e outras percussões adicionais, além de 3 ou 4 vozes. 


Seguiu-se "Bom Tempo" e "Corridinho de Verão", e nas primeiras filas instala-se algo entre um baile vira e um festa de rock dos anos 80, pela forma como todos se mexem, em delírio com o que vem do palco, e pela maneira como o sintetizador funciona quase como um dj. A banda está muito próxima do público, e não se deixa incomodar por isso, antes pelo contrário. Antes da saída de palco, toca-se "Fecha a Loja". Todos conhecem e aplaudem ao ritmo da canção, e a banda retribui com um rock festivo e vistoso, com direito a uma pequena jam de disco-funk. Já aqui se tinha dito, noutro artigo, que os diabo na Cruz percebem imenso de música, e ficou patente neste concerto que essa afirmação mantém-se e até ganha força depois deste autêntico show. Após uma breve pausa, o septeto volta com um medley entre o glorioso hino "Memorial dos Impotentes" e "Bomba-Canção", no primeiro moche da noite. O segundo single de Roque Popular revelou-se a música mais virada para ser tocada ao vivo (se é que há alguma do seu repertório que não o seja), numa fúria rock em bom português, em que foi o público que gritou mais alto. A festa acabou com "Chegaram os Santos", que, a par de "Sete Preces", é a mais alegre do álbum. 

Foi um grande final de uma noite imperdível, em que quem não conhecia bem o grupo é bem capaz de ter ficado impressionado, e em que quem conhecia deu por muito bem gasto o tempo e o dinheiro. Espectáculos como os que estes rapazes dão não são muito habituais, e temos que valorizar as oportunidades que os temos de ver ao vivo!

Duarte Azevedo




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